Loucuras e sandices descritas de uma maneira tanto normal qto fora de pespectiva. Um amontoado de palavras q busca trazer consolo, alegria, tristeza e qlqr sentimento q se qeria passar p qm passar...
Ônibus são verdadeiros templos da filosofia moderna. Os que rodam pela madrugada chegam a ser sagrados tamanho seu potencial de produzir pensamentos e questionamentos numa alma.
Foi num ônibus e em plena madrugada que resolvi deixar minha solidão um pouco mais matemática.Cheguei a conclusão de que demoraria cerca de uma semana pra que eu fizesse falta significativa a alguém caso desaparecesse do nada. Claro que alguém me notaria ausência antes disso, no entanto demoraria mais ou menos esse tempo para que se tornasse algo serio na cabeça de alguém.
Ainda estenderia isso a um tanto, caso minha barraca de camping não fosse encontrada no meu quarto, esse tempo aumentaria para umas três semanas aproximadamente.
Não tenho para quem dizer onde vou, nem para avisar que cheguei. Agente passa toda adolescência querendo que isso aconteça e quando acontece... bem, como quase todas as coisas que queremos para quando ficarmos adultos, não é tão bom assim.
Você não ter para quem voltar, ou a quem dizer como esta, ou alguém ao menos para se preocupar é um tanto... solitário. Dá um frio, umas sensações estranhas diante dos espelhos.
Sei o quanto aquele Narciso interno é importante para cada um de nos, e por mais que ninguém mais divida da opinião dele, ele consegue nos convencer com tanta facilidade. Se ele diz que estamos lindos, elegantes, gordos ou feios, não há ninguém no mundo que nos convença do contrario. Imagine então quando ele te olha, olha e olha mais, foca bem nos fundos dos seus olhos e diz:
- Você esta sozinho!
Me diz quem vai dizer contrario? Quem vai dizer, de um modo que você passe a saber que não esta?
Meu Narciso me diz que apesar de jovem, bonito e inteligente estou sozinho. Meu Dom Quixote me diz que os gigantes são moinhos de vento. As princesas são todas madrastas.
A vida então se resume a um conto de fadas ao avesso. Um conto de fatos. Uma imagem preta e branca, fria e sem som. Onde você sozinho não possuem as capacidades de colorir, aquecer, nem de lhe dar uma boa trilha sonora.
A muito me desiludir e não procuro mais; amor, paixão, fidelidade, ou qualquer destes sentimentos fantasiosos e alegóricos. Procuro apenas companhia. Alguém que esteja do meu lado mesmo quando eu não quiser ninguém perto de mim. Que sinta pesar nos despedidas. Que pense em me dizer se ganhar um prémio, se tropeçar na rua e ate mesmo se não fizer nada e queira ouvir as minhas futilidades diárias mesmo que não esteja nem ai pra elas.
Eu quero a sorte de amor tranqüilo com sabor de fruta mordida.
Ele estava em seu escritório, perdido entre dados, tabelas, e-mails e relatórios. Concentração máxima. Revelada pelo modo de apertar os lábios e de erguer as sobrancelhas sob os óculos e quebrada pelo toque do telefone em sua mesa.
- Sim.
- Bom dia Senhor XXXXX. A Senhora XXX XXXXXXXX, esta aqui disse que marcou com o senhor.
- Comigo?
- Sim. Ela é XXXXXXX da empresa XXXXX.
- Certo. Acho que foi marcado sim. Mande entrar.
Seria mais uma conversa inútil que tomaria seu tempo, pensou ele, mas um pouco de descanso poderia fazer com que ele pensasse melhor ao voltar ao que estava fazendo. Ela entrou na sala e ele nem se quer tirou os olhos da tela de seu computador. Ela estava sorrindo aquele seu sorriso maravilhoso. Ele nem se quer percebeu quem era, respondeu a seu bom dia e pediu que ela sentasse. Ela percebeu que não foi reconhecida.
- Oi! Não lembra mais de mim?
Ele finalmente a olhou. O coração veio a boca, mas claro que ele não deixaria transparecer.
- Ah! É você. Oi.
- Como assim “oi”? É assim que você trata suas visitas de negocio?
- Você não venho aqui a negócios.
- Como sabe?
- Tenho certeza!
- Você continua tão frio, seco...
- Posso ser pior...
Alguns minutos de silencio e olhares. Ela pensava em como ele não havia mudado nada no seu modo de falar e de agir e quase nada na aparência. Ele só pensava como ela tinha conseguido ficar ainda mais linda. Ele quebrou o silencio.
- Não estou muito disposto a perder tempo. Qual o assunto de negócios que você quer falar?
- Você não disse que tinha certeza que eu não falaria de negócios?
- Achei que ao menos você poderia mudar de opinião.
- E por que você não pode?
- Olha! Vamos parar de palhaçada! Você pode, por favor, dizer o que quer aqui? To com pouco tempo pra desperdiçar.
- Desperdiçar? Eu sou desperdício de tempo pra você? Mesmo depois de...
- Depois de que??? O que você quer que eu faça??? Depois de anos que você me deixou, reaparece no meu trabalho e quer que eu a receba de braços abertos como se nada tivesse acontecido?
O que eu devo fazer te chamar de meu amor como se você não tivesse me deixado, ou te tratar de forma cortes como bons amigos como se nunca tivéssemos tido nada?
Olha na minha cara e diz!!!
Ela ergueu a cabeça, seus olhos brilhavam ainda mais agora que estavam marejados de lagrimas que se esforçavam para rolar contra a vontade dela.
- Achei apenas que seria diferente. Tudo não passou pra você? Eu não passei pra você?
- Você me deixou! Eu tive que fazer você passar pra mim. Sim, eu consegui. Mas não tenho obrigação de achar bom te ter aqui. Vivi muito bem a minha vida sem você até hoje.
- Desculpa! Não queria atrapalhar.
- Como você consegue ser cínica a suficiente pra me pedir desculpa por esta aqui hoje depois de tudo?
- Não é cinismo. Apenas achei que...
- Você achou? Você acha que tem direito de achar alguma coisa?
- Calma XXXXXXX?
Ela percebeu tarde demais que o havia chamado da forma que fazia no passado. Ele também congelou. Não podia mostrar a ela que tinha gostado daquilo.
- Desculpa me exaltei.
- Não, eu que peço desculpa, não tinha o direito de vir aqui.
- Realmente não tinha.
- Estou indo embora então.
- Me deixe abrir a porta pra você.
- Quer mesmo que eu vá?
Ele se aproximou dela, olhou bem dentro dos seus olhos. Lembrou da primeira declaração de amor que fez a ela, citando que se maravilhava quando se via no brilho dos olhos dela. Não deixou a lembrança transparecer no rosto. As mãos por outro lado tremiam involuntariamente. Ele percebeu que era mais forte do pensava e mais fraco do que desejava naquele momento. Respirou fundo, se concentrou e disse da forma mais convincente que conseguiu:
- Sim! Eu quero.
- Quer o que?
- Eu quero que você vá embora. Não só da minha sala como da minha vida. A muito você não faz parte dela e gostaria que continuasse assim.
- Você, insatisfeito de me esquecer no coração, também quer me esquecer aqui.
Ela falou apontando a mão para a testa dele. Ele fechou os olhos ao seu toque. A mão dela desceu de forma carinhosa por suas bochechas. Cada pêlo do corpo deles se arrepiou. Ela se aproximou e quando seus lábios quase se tocaram ele abriu os olhos segurou nos seus braços e a afastou de si.
- Não!!! Passei anos para que me curar de você.
- Curar? Por acaso sou alguma doença?
- Foi! Foi uma doença pra mim. Não vou me deixar ser infectado novamente.
Ele deu as costa e estendeu o braço apontando a porta. Ela se levantou da cadeira e deu três passou em direção a porta, voltou correndo e o abraço pelas costas. Sua boca foi até bem perto do ouvido dele e ela soltou num sussurro.
- Foi muito difícil pra mim também. Perdi noites e noites em meio a arrependimentos e suplicas para desfazer tudo que tinha feito. Nada tinha o sabor que sentia quando estávamos juntos. Procurei substitui você em tudo que você me negou mas não foi o suficiente. Tentava juntar forças para tentar falar com você, mas você já me afastava no primeiro momento. Senti tanta falta de estar assim perto de você.
Ele não deu uma só palavra. Não fez um só gesto. Por dentro seu corpo incendiava. A quanto tempo não se sentia assim nem lembrava. Lembrava apenas que tinha sido com ela.
Tentou seguir a razão para afastá-la novamente e fazer com que ela saísse. Não conseguiu. Tentou falar qualquer coisa racional para dizer que não se sensibilizava com o que ela dizia. Também não conseguiu.
Virou o corpo lentamente e sem abrir os olhos a abraçou de volta. Sentiu seu cheiro, a textura do cabelo, a delicadeza da pele.
Ergueu um pouco a cabeça, olhou novamente nos olhos dela. Eram quatro olhos chorando na sala agora. Encostou suavemente sua testa na dela, depois o nariz, seguido dos lábios. Dois beijos leves nos lábios foram seguidos pela mão dele na nuca dela e um beijo digno dos filmes de Hollywood.
Depois de minutos de tato e paladar, os dois se separam com a respiração ofegante. Ele se recompôs primeiro.
- Desculpa. Isso não devia ter acontecido.
- Devia e aconteceu. Não me arrependo e gostei.
- Não pode ser assim. Não é assim.
- Você esta certo. Eu vou embora. Agora vou mesmo.
O rosto dele voltou ao formato de estatua de pedra assim como quando ela entrou na sala.
- Quero lhe pedir algo.
- Peça.
- Vá embora, mas vá de vez. Não volte mais aqui, nem em lugar nenhum da minha vida. Somos você e eu agora, não existe mais nós. Finja que isso não aconteceu.
- Certo. Eu vou.
Ela ajeitou as roupas e os cabelos, respirou fundo, deu as costas e saiu tendo a certeza que voltaria e que seria em breve. Mesmo tendo prometido a ele, ela voltaria. Ele ficou olhando ela atravessar a porta pedindo a todos os deuses para que ela voltasse e dissesse que tinha vindo para ficar e ficar para sempre mesmo se ele não quisesse.
A porta demorou uma eternidade para se fechar por completo. Ele ajeitou o paletó e a posição dos óculos sobre o rosto. Levou a mão a nuca e coçou algumas vezes. Pendeu um pouco a cabeça pra esquerda pensando em tudo que tinha acabado de acontecer. Coçou a testa um pouco. Respirou fundo e voltou a sentar frente ao computador e aos papeis. Abriu o arquivo que lia antes do telefone tocar, apertou os lábios e ergueu as sobrancelhas.
Um sorriso se mostrou em ambos os lados da boca dele. Uma raridade entre seus sorrisos falsos de apenas um lado da boca. Em meio a esse sorriso ele respondeu:
- Te procurando!
Ainda com o olhar no alem ela rebate:
- E porque demorou tanto?
O sorriso se desfez num olhar de duvida com uma das sobrancelhas erguida. Os segundos de duvida pareceram horas e só tiveram fim quando se transfiguraram em uma pergunta:
- Foi tanto assim, que não posso te ter mais?
Ela voltou o olhar para ele. Seus olhos redondos e brilhantes estavam apertados e foscos, exceto pela lagrima que surgia no cantinho de um deles.
Ela beijou os lábios dele, recuou e tragou demoradamente o cigarro que tinha entre os dedos. Ele jogou seu tronco contra as costas da cadeira em que estava sentado, tomou um gole rápido em copo descartável que continha um pouco de cerveja. Como ela estava quente...
Eram 03:47 quando resolvi isso. 03:47 da madrugada. Nem sei o que estava fazendo acordado aquela hora, levando em consideração minhas obrigações no dia seguinte. O tempo gasto em apenas um pensamento que me atormentou nos últimos meses.
A defesa primaria, como de praxe, foi a fuga. Não pensar naquilo, pensar em outras coisas, ler, ouvir musica e esconder tudo que trouxe a tona aquele desejo. Ficava tudo muito tranqüilo. Até que batinha um nordeste mais frio, ou sudoeste mais quente e tudo vinha a tona de uma só vez.
Essa foi a rotina de alguns muitos meses recentes. Toda via, as 03:47 daquela madrugada resolvi mudar a posição de uma torre, avançar uns peões, cruzar os bispos e retroceder os cavalos. Qual minha surpresa quando vi a posição em que me encontrava. Rainha branca em posição desfavorável, apenas com as opções de sair do jogo ou abrir espaço para Xeque Mate contra seu Rei. Alem de dois peões meus a uma casa de se tornarem novas Rainhas Pretas.
Um lance para destruir a Rainha e outro para o cheque, mas para que a pressa? Acreditei que deveria sair tirando peça por peça do meu campo rival. Aproveitar cada alegria, cada ferroada ao rival. Devorando peça por peça sem desmanchar a armadilha que rendia a vitória certa.
Pus-me a me banquetear no desespero que surgia do outro lado do tabuleiro até o momento em que a compaixão se fez necessária. Um lance e o fim do jogo. Um lance para a vitória. Olhei bem fundo nos olhos do meu rival e disse solene:
- Fim do Jogo! Temos um empate.
Li a mistura de desespero e atordoamento em seu rosto, como se ele fosse um letreiro luminoso piscando em néon. Então venho a sensação:
- Venci.
Um minuto depois olhei para o relógio. Me dando as boas vindas ao jogo novo. As 03:47 daquela madrugada me dei conta do fim daquele jogo com o empate mais vitorioso que tive na historia. Respirei fundo e preparei o tabuleiro para o novo jogo e percebi a necessidade de outros adversários e aliados.
Munido de tudo que preciso para ir em frente, eu fui. O mundo me esperava de braços abertos, como quem sentia um falta enorme de mim. Fiz o primeiro movimento das peças e sensação do novo jogo me tomou as pontas dos dedos.
Em algum momento de dois anos para cá eu envelheci. Não sei o dia exato, sei que foi nesse período. Certa manhã acordei e me olhei no espelho, continuava com meus vinte e poucos anos e minha cara de quem tem menos de dezoito. Penteei-me com se tivesse quinze e sai para o mundo. Então comecei a perceber que as coisas ficaram mais estremas. O certo parecia muito certo. O errado muito errado. Com o passar dos dias, meu sorriso, já raro naqueles tempos, foi aparecendo menos até se tornar um simples sobre erguer de um dos cantos da boca. Geralmente o esquerdo (por ser o lado coração?). Olhava-me e olhava, mas nada tinha mudado fisicamente. Nenhuma ruga nova, nem um fio de cabelo branco. No entanto, a velhice era imperativa nas minhas ações e pensamentos. Procurei esconder tudo isso na mascara de menino que já usava. Falhei! Dia-a-dia a faceta de menino-velho era mais exposta. Olhos ainda mais foscos e frios. Decisões mais definitivas e pensadas cada vez mais rápido. Menos dó, receio e duvidas. Mais certezas e determinações. Penso se posso algum dia ir a resgate da juventude e infância que se perderam nesses dias. Penso, mas não ajo para que possa resgatá-las. Penso e só existo.
O coração é um cofre, um baú e como tal gosta de estar cheio, busca por ser preenchido. Mesmo com seu fecho danificado, com a porta emperrada, não é esforço para um coração se abrir para um novo sentimento. A razão condena, a mente distancia, porem nenhum outro músculo é tão forte.
Por ser músculo o coração segue instintos, mas é suficiente sábio, sábio o bastante para saber que dor de amor não se cura com ódio, rancor ou medo, mas sim com prazer de amor. A sabedoria do coração nos diz que não se perde o amor, se perde um amante, e que na próxima troca de olhares brilhantes, nas próximas risadas, nas duplas de cantores de “na-na-ná”, vamos pensar que ele esta sendo preenchido novamente, mas que nada, isso é prova de que ele já se preencheu.
Amor é como gás, a menor quantidade que seja ocupa todo o espaço que o concederem. Ele vai se expandindo, esticando, mas se recusa a contrair para dar entrada a outros gases iguais a ele. Porem existem gases diferentes, existem amores diferentes, que se unirão para formar um novo gás ou não se misturarão devido a densidades distintas, todavia convivem em plena harmonia.
O coração bate para deixar o amor em movimento e o corpo usa isso em beneficio próprio no transporte do sangue. É como a manivela da panela de pipoca, tem que se fazer todo o milho estourar e temos, para isso, que trazer alguns grãos para perto do calor.
Amor nunca é mais amor, nem menos amor; é amor e ponto. Ou é, ou não é. O brilho pode até entrar mais fundo nos olhos, porem sempre enquanto houver amor ele estará lá.
Fui novamente despertado pela manhã. A tanto que não acordo. Meus primeiros sentidos vieram da boca. Vestígios do gosto das bebidas, o seco das fumaças e o úmido das salivas.
A cabeça apertava numa sutil ressaca, mais moral que física. Os olhos doendo e ardendo e me mostraram meu desleixe com meus cabelos, barba e bigodes.
Mecanicamente, fiz tudo que sempre faço pela manhã para poder começar o meu dia (louco para terminá-lo). Sai de casa querendo voltar para a cama. Curti cada hora, como um paciente na sala de espera de seu dentista, louco para que chegue sua vez.
Assim o dia se foi e eu vou para cama pedindo que ele não volte.
No meio do caminho tinha uma porra de uma pedra tinha uma porra de uma pedra no meio do caminho tinha uma porra de uma pedra no meio do caminho tinha uma porra de uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida do meu dedão tão esfolado. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma porra de uma pedra tinha uma porra de uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma porra de uma pedra.
Eles sentaram olhando juntos algumas fotos. Apenas algo para fazer quando a conversa acabou. Ela via a fotografa e entregava a ele perguntando alguma curiosidade sobre a imagem ou fazendo um elogio. As fotos seguiam envelhecendo a cada “onde foi isso” ou “que lugar lindo”. Até que chegou a momentos de um passado remoto, anunciados por um “ah dessa eu me lembro”.
Perdida entra as demais estava uma fotos deles juntos. No aniversario dela, ele de chapéu e óculos de sol estilo aviador. Ela com uma camisa vermelha que ambos adoravam (bem por isso ela usava tanto). Ela sentado no colo dele, sorriam como se não houvesse no mundo lugar melhor para se estar.
Eles pararam e ficaram refletindo aquela foto. Até que ela quebrou o silencio: “Você não tinha rasgado essa?”. Ele fez uma cara de envergonhado e disse entre dentes: “Revelei outra”.
Mais alguns minutos de apreciar a imagem ou aqueles velhos momentos e num suspiro ele soltou um pensamento: “é uma pena”. Ela olhou pra ele com a certeza nos olhos: “Realmente, parecia que daria certo um dia. Mas iria demorar muito...”. Ele interrompeu: “Não! A muito eu cansei de lamentar isso. A pena é outra”. Uma duvida/espanto brilhou na cara dela: “Qual seria então?”. Ele abriu um sorriso de serenidade: “Uma pena que nenhuma dessas pessoas exista mais! Pareciam tão felizes...” Ela interrompeu: “Elas não são agente?” nunca fora muito boa em entender os pensamentos dele. Ele nunca cansou de tentar explica-los a ela: “Não, realmente não são. Tenho até inveja dessas pessoas que não vejo a tanto tempo e da felicidade delas. Somos hoje dois estranhos deles, se eles nos visse não reconheceriam com certeza.”
Uma lagrima veio aos olhos dela, os dele já estavam cheios delas. Ela se levantou e pensou em algo diferente para fazerem dizendo estar cansada de ver fotos.
Do outro lado da porta a vida seguia seu curso normal.
Acordei três vezes hoje. O telefonema de um grande amigo e despertador não foram suficientes para me desgrudar da cama. Somente após o terceiro despertar resolvi me levantar.
Antes de qualquer coisa, andei só de cueca pela casa para ter certeza de que tudo estava no seu devido lugar. E estava. Eu claro, esperava que não estivesse. Gostaria de ter me acordado alguns anos antes. Não aconteceu, acordei hoje mesmo.
Depois da certeza fui ao banheiro. Olhei-me no espelho e procurei logo meus olhos. Encontrei tão fácil. Acho que já me acostumei com o local onde eles estão. Olhei bem fundo. Dentro dele ainda estavam as alguns traços vermelhos me lembrando das minhas ações na noite anterior.
Concentrei-me e olhei ainda mais fundo. Finalmente me vi. A partir desse contato olho a olho que tive comigo mesmo tive certeza de algo que venho me questionando há certo tempo. Perdi meus dons. Todos eles. Das luzes as palavras. Tenho hoje o espectro disforme de tudo que já fiz um dia. Assim como a fama disseminada pela amizade de um potencial que um dia poderia vir a ter.
Fui com o passar dos dias me tornando de tudo que eu era para uma serie de nãos. Não sorri. Não amar. Não amado ser. Não fui. Não tive. Não fiz. Não conquistei. Não lutei. Não, não e nãos...
Duvido até mesmo que reste lá dentro algum vestígio do monstrinho verde da esperança. Creio que reste apenas vestígios de vida, enquanto não surge os primeiros traços de morte.
Ela veio com um sorriso largo e os olhos brilhantes.
Fazia muito tempo que não se viam e das ultimas vezes vinham apenas se vendo. Mantinham-se de longe. Trocavam um olhar só para saber que um viu o outro. Depois passavam a se observar de longe, sutilmente, para que não se percebessem.
Dessa vez, quando os olhares se encontraram ele mandou um sorriso para ela. Foi só uma levantadinha das pontas da boca. Sendo que, na situação em que eles se encontravam, aquilo valia como um imenso sorriso.
Ela, longe, respondeu com um sorriso bem mais largo, jogando a cabeça um pouco para direita. Era do seu feitio aquele sorriso, mesmo que fosse falso. Ele não saberia distinguir, claro.
Junto com o sorriso veio a coragem. Então ela chegou perto com aquele tipo de conversa trivial: “Como você esta?” “como esta a família?” “Os estudos?” “O trabalho”... Tudo muito mal respondido por ele que quase não fez perguntas. Falou apenas o necessário. Uma piadinha às vezes quando a camada de gelo entre eles estava espessa demais.
Com um tempo alguns indícios de uma intimidade que não existe mais começaram a surgir. Aproveitando esse ensejo ela pergunta: “Já deixou de me amar?”. Ele olhou como se duvidasse que ela perguntaria aquilo, ou como se tudo fosse muito obvio: “Não, mas aprendi a viver sem você.”
A conversa perdeu o desenrolar por instantes. Pareceram horas para eles. Então alguém puxou um novo assunto que volta a se desenrolar como no começo. Perguntas habituais, sociais. Coisas que não se quer saber na verdade, muito menos se quer dizer.
De repente algum amigo o chamou, ou a ela. Eles se despediram formalmente. Um abraço desajeitado, cheio de embaraço e ambos se dão as costas.
Ele começou uma oração silenciosa que pedia que ela voltasse para dizer que o quer de volta, ou apenas para lhe dar mais uns minutos dela. Ele não sabia o que ela estava pensando. Resolveu então, esquecer isso por mais tempo.
Percebeu que realmente aprendeu a fazer isso muito rápido. Quando chegou aos amigos jurava que nem lembrava mais.
A noite voltou a sua total normalidade. Ambos vão ao menos fingir se divertirem. Ela teve um pouco mais de problema nisso. Devido a experiência ele o fez muito bem, quase imperceptível.
Tudo volta a exalar um ar de comum e eles, como quem respira, passaram a noite se observando, sutilmente, para que não se percebessem.
E hoje, sim, você me olha com curiosidade. Aquele olhar surpreso de quem achou algo. Não de quem acha algo que perdeu, mas que procurava.
Já eu, sentado em minha cadeira distante, deitado na minha timidez, viajando na minha carência, fui desperto por esse olhar. Vi verter em mim todas as boas sensações de ser achado. Correspondo os olhares da forma de quem pergunta: “eu?”.
Passo por você vezes e vezes. Você não me vê. Não é que fingi não ver, é que eu não me mostro e assim não tem como você me ver.
Então hoje, não, estou lá no mesmo lugar da outra vez. Sentado, quase de pé na esperança de você me olhar novamente. Você olha, mas não com o mesmo brilho. Depois de encontrar meus olhos você desvia os seus como quem já cansou do que teve.
Nisso eu, sento novamente na desilusão e volto a viajar em outra coisa qualquer. Qualquer que seja a coisa. Qualquer coisa seja a viajem.
Eu acredito em Amor. Eu acredito em D’us. Eu acredito em Paraíso. Eu acredito na Fé. Eu acredito na Amizade. Eu acredito na Lealdade. Eu acredito na Verdade. Eu acredito até na virgindade de Britney Spears, de Sandy e da sobrinha de Gretchen. Só não acredito na Humanidade.
- Não Alice, Não é Tolice. Olhar para o inicio da estrada quando se esta no meio é tão importante quanto olhar para o final. Saber aonde se quer chegar pesa, mas como se pode aproveitar a gloria de saber como se chegou?
Alice, racional, respondeu:
- A gloria provem da vitória e não de como se chegou a ela.
O chapeleiro, cético, retrucou:
- Então Alice, me explique você porque os morangos maduros da cesta que você ganhou não estavam tão suculentos quantos esses, quase verdes, que nos esfolamos para colher?
Alice ainda levantou o dedo indicador e abriu a boca para dar a resposta ao chapeleiro, mas as palavras falharam. Faltaram na verdade. A razão de Alice perderia para a loucura do Chapeleiro mais uma vez. A menina resolveu dar atenção a algo mais importante. Pegou um morango meio verde meio róseo e pos todo na boca. Mastigou três vezes e suspirou se rendendo ao prazer do seu sabor.
Aos prantos, sentado ao chão perto do velho acomodado em sua cadeira de balanço, ele descrevia mais um amor que “não deu certo”. Toda aquela ladainha que todo mundo conhece de cor. Fiz mundos e fundos, me superei, me privei. Tudo aquilo que agente sabe que todo mundo faz e não faz.
Quando já estava cansado de falar, ou por necessidade de ouvir, ele pediu algum tipo de conselho ao velho, que responde:
- Ame meu filho. Ame o maximo que você puder e quando achar que não pode mais, ame mais ainda.
Claro que aquilo parecia a coisa mais inútil de se ouvir naquele momento. Tudo que se ouve nessas horas parece inútil na verdade. E talvez por descaso, falta de compreensão ou mesmo burrice ele não seguiu o conselho que recebeu.
Horas, dias, meses e anos depois ele era o velho na cadeira de balanço e alguém jovem chorava as mesmas lamurias que ele tinha chorado naquele momento. Mesmo sabendo cada trecho da historia que estava por vir, ele ouviu pacientemente. E quando percebeu que havia chegado a hora em que o jovem tinha cansado de falar ou necessidade de ouvir, ele disse:
- Ame meu filho. Ame o maximo que você puder e quando achar que não pode mais, ame mais ainda.
De forma mais inteligente que a dele no passado, o jovem perguntou porque. Ele reconhecendo que deveria ter feito o mesmo quando era sua vez deixou uma lagrima rolar no rosto. Abraçou o jovem, olhou nos seus olhos e disse:
Hoje, em alguns momentos do meu dia que quase não parecem meu dia, tive tempo de pensar em te ligar. Apenas ligar. Para falar qualquer coisa. Perguntar como foi seu dia. Dizer alguma eventualidade. Ouvir tua voz. Peguei o telefone algumas vezes, mas desistir em todas. Pensei se podia fazer, se devia fazer. Se você receberia bem, a final não sei seus gostos. Se você poderia falar, afinal não sei seus horários. Pensei no que poderia falar e no que não deveria nem pensar. Passei tanto tempo nisso que acabei devorado por mais uma onda de tumulto do meu dia e pensar em você foi mais de você que pude ter quando queria muito mais.
Era muito bom para ser para mim. Não, não podia ser para mim. Não desse jeito, não com tanta perfeição.
Aquele brilho nos olhos, não podia ser para mim. Aqueles beijos não eram meus, não podiam ser meus. Eu não teria direito a tanto, ou a tal.
Cai nas graças do momento, mesmo sabendo que não era meu. Que não podia ser meu. As asas cansadas se aninharam no aconchego daqueles braços. Meu corpo frio se aqueceu no calor daqueles abraços.
Mas nada daquilo era meu e por devido, me foi tirado, assim como foi dado. Era muito para ser para mim, pois era muito pouco. Podia ser de qualquer ser humano, mas não meu. Nunca poderia ser meu. Nunca poderá ser meu...
Hoje o barulho da chuva tem outro significado.Como toda mudança, doeu para que ao ouvir a chuva cair eu pensasse em outra coisa, em outros momentos.
Antes os pingos ao chão anunciavam um sono doce, ambos a se esquentar sob os lençóis abraçados na cama de solteiro. Dormir com seus cabelos no meu nariz. Às vezes trazendo seu cheiro em outras fazendo cócegas. Aperta-la contra meu corpo, correr a mão da sua cintura ate as coxas. Acordar varias vezes a noite com o ranger de seus dentes ainda acordados. Finalmente, acordar para vê-la serena e linda, nos seus últimos minutos de sono.
Quantas chuvas clamaram por isso e não tiveram. Deitei só, na esperança de que em algum momento ela aparecesse como por encanto, dizendo apenas “cheguei”. Não seria necessário dizer mais nada. Perguntas, pensamentos e duvidas seria para a manhã seguinte (caso ela viesse a existir).
Procurei o seu cheiro no travesseiro, nos lençóis. Ate achava vez ou outra. Por pouco segundos, mas jurava que era ele. Meus braços vagaram pela cama que agora parecia tão grande. Nem mesmo os lenços conseguiram afastar o frio.
Assim foram as noites de chuva de um passado não muito distante. (Faz um ou dois séculos?)
Hoje é diferente. Novamente a chuva lembra aconchego, mas de modo diferente. De um jeito especial, mas que depende mais de mim do que de outra pessoa. Escolho quanto espaço terei na cama. Hoje sinto o cheiro que quero. Nada mais me acorda. Prefiro ser assistido ao dormir a assistir o sono alheio.
O barulho da chuva hoje me lembra quão efêmeros são os bons momentos. Que se não forem intensamente aproveitados eles podem ser protagonistas de momentos desesperados de tristeza.
O barulho da chuva hoje, me da ordem de vida. Eu a acato e vivo.
Era meu olhar aos olhos delas. Depois era eu dentro dos olhos dela. Meu nome na boca dela, minha língua na boca dela, mais e mais de mim na boca dela.
A minha mão corria em busca dela. Cada curva que passava eu não sabia mais se era eu ou se era ela. Eram curvas, pêlos e fendas. Apenas isso. Sem dono, nem fim.
Era eu dentro dela. Ela a me devorar. Com todas as bocas, com todas as mãos. Buscado o palato quente dos sentimentos.
As peles eram uma só pele. O suor das sensações era o que as grudava. Grudava e davam um gosto salubre as palavras. Grudava e matava a sede das línguas.
Eram faíscas que começavam brotar no ar. Brotavam nos corpos. Tenho duvidas se não era apenas um corpo. De tão próximos, de tão dentro um do outro. Contrariando as leis da física.
As faíscas ascenderam o estopim da paixão. Que foi queimando deliciosamente pelas colunas daquele corpo único que eram dois. Uma explosão! Os corações se encarregaram do estrondo. As bocas cuidaram dos gritos de surpresa. Os pulmões eram responsáveis pela respiração pesada de emoção.
Eram dois corpos sobre os lençóis. Juntos, muitos juntos. Vejo-me novamente nos olhos dela. Minha mão corre seu rosto e afasta uma mecha de cabelo. Recebo um sorriso e devolvo. Beijo seus lábios. Procuro todas as palavras que conheço para agradecer aquele momento. Ela só diz “eu te amo” e faz bem melhor que eu.
A paixão começa a dar lugar ao amor pouco a pouco. Mas os corpos não desgrudam. Dentro daquelas paredes todo parece estar no lugar certo. Lá fora está tudo errado. Dentro tudo é perfeito. Lá fora mundo está acabando. No entanto, nenhum dos dois está dando a devida atenção. Ela fica indiferente. Já eu, desejo é que o mundo exploda mesmo.