Hoje o barulho da chuva tem outro significado. Como toda mudança, doeu para que ao ouvir a chuva cair eu pensasse em outra coisa, em outros momentos.
Antes os pingos ao chão anunciavam um sono doce, ambos a se esquentar sob os lençóis abraçados na cama de solteiro. Dormir com seus cabelos no meu nariz. Às vezes trazendo seu cheiro em outras fazendo cócegas. Aperta-la contra meu corpo, correr a mão da sua cintura ate as coxas. Acordar varias vezes a noite com o ranger de seus dentes ainda acordados. Finalmente, acordar para vê-la serena e linda, nos seus últimos minutos de sono.
Quantas chuvas clamaram por isso e não tiveram. Deitei só, na esperança de que em algum momento ela aparecesse como por encanto, dizendo apenas “cheguei”. Não seria necessário dizer mais nada. Perguntas, pensamentos e duvidas seria para a manhã seguinte (caso ela viesse a existir).
Procurei o seu cheiro no travesseiro, nos lençóis. Ate achava vez ou outra. Por pouco segundos, mas jurava que era ele. Meus braços vagaram pela cama que agora parecia tão grande. Nem mesmo os lenços conseguiram afastar o frio.
Assim foram as noites de chuva de um passado não muito distante. (Faz um ou dois séculos?)
Hoje é diferente. Novamente a chuva lembra aconchego, mas de modo diferente. De um jeito especial, mas que depende mais de mim do que de outra pessoa. Escolho quanto espaço terei na cama. Hoje sinto o cheiro que quero. Nada mais me acorda. Prefiro ser assistido ao dormir a assistir o sono alheio.
O barulho da chuva hoje me lembra quão efêmeros são os bons momentos. Que se não forem intensamente aproveitados eles podem ser protagonistas de momentos desesperados de tristeza.
O barulho da chuva hoje, me da ordem de vida. Eu a acato e vivo.
2 comentários:
Posso te fazer inveja?
Eu dormi tão bem com essa chuva...
A efemeridade torna-se especial por provoca comportamentos ansiosos pelo sempre "mais", pelo "contínuo" ou o permanente "não me abandone". A chuva me fascina também... Abraços e saudações.
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