quarta-feira, 28 de julho de 2010

Das distancias entre Sátiros e Ninfas

Ele achava que a ultima vez que a tinha visto seria a ultima vez que eles se veriam. Achava mas não queria acreditar. De qualquer forma passou a viver como isso fosse verdade.
As vezes até sentia a falta dela. Em suas viagens ao ver coisas que ela gostaria de ver ou nos momentos de tristeza quando sentia falta de seu abraço quente que ninguém mais tinha igual.
Mesmo assim, já se encontrava consciente e conformado de que não mais se veriam. Passou até a querer que as coisas realmente fossem dessa forma. Até que o impossível (mas ocorrível) aconteceu. Ali estavam eles frente a frente.
Ele se manteve na sua frieza padrão, ao menos por dentro. Ela permanecia linda, intocada pelo tempo. Demonstrou um certo entusiasmo em vê-lo que era bem comum nela, por isso ele não sentiu nada de especial sobre isso.
Ela se aproximou dele. Na verdade, ele não conseguia se mover, principalmente se fosse na direção dela. Chegou com as perguntas habituais de dois conhecidos que se encontram: "A quanto tempo...", "Como vai?", "... e a família?".
Ele só se deu ao esforço a responder. Nenhuma pergunta. E quando ela se esgotou de perguntar olhou para ele e fez uma cara de: "E ai?". Ele por sua vez a olhou, entendeu que ela estava esperando que ele fizesse alguma pergunta ou falasse algo ou a beijasse apaixonadamente. Sentiu o corpo ficando mais leve aos poucos, se aproximou e apertou sua mão cordialmente:
- Muito bom te ver. Espero te encontra em algum momento onde possamos conversar, mas agora tenho que ir.
Ela deixou todo o corpo se embalar pelo aberto de mão:
- Então... agente marca.
- Isso! Agente marca. Até a próxima então.
Saiu como um raio e sem olhar para trás. Ao chegar ao carro sentou e respirou fundo. Depois de se notar menos tenso, ligou a ignição e partiu. Pouco antes de parar em casa, se viu pensando na situação de que teria essa sido a ultima vez que eles se viram.

Das razões para falar e calar

Alice aguardou impaciente a saída da Lebre. Aquela miserável, que nem mesmo era um coelho nem um gato, estava roubando a atenção do Chapeleiro falando suas asneiras enquanto ela tinha algo importante a dizer.

A menina cruzou os braços e fez cara de birra na esperança que um dos dois se desse conta da situação. Mas foi inútil. A Lebre continuava tagarelando baboseiras sobre desaniversários e mel e pimenta.

Alice comemorou quando ouviu a Lebre dizer ao do tipo: "... então volto amanhã...". Levantou de excitação pela partida do falso coelho e foi lhe desejar boa partida mais no sentido que ela fosse mais breve do que realmente fosse boa.

Ao chegar próximo a Lebre se punha em posição de partida. Voltou para saudá-la apertando sua mão e balançando as orelhas longas e finas. Alice por sua vez disse um "até mais" como quem diz "vai logo". A Lebre virou de volta a sua direção e saiu aos saltos em zig-zag.

Alice olhou para o Chapeleiro e disse meio zangada:

- Que bom que ela foi embora.

O Chapeleiro novamente não entendeu a menina. A Lebre era sua melhor companhia para o chá, principalmente para chás de desaniversários. Por mais que Alice tivesse passado a ser uma companhia mais interessante, ele não gostaria de desperdiçar seus velhos prazeres com quem tanto o divertira no passado.

- Gosto das visitas da Lebre de Março, Alice. Ela sempre traz noticias muito interessantes de todo o País. - Respondeu então.

A menina ficou ainda mais zangada, mas, obvio, não quis se deixar perceber:

- Também gosto dela. Apenas que agora precisava lhe contar algo e apenas a você.

- O que seria então Alice? - Disse o Chapeleiro em tom de duvida.

- Seria que... que... - Alice olhava para todos os lados, como se a sua pergunta estivesse a chegar de algum lugar. - Que a sua amiguinha Lebre demorou tanto a sair que eu esqueci o que ia dizer.

O Chapeleiro, com cara de "eureca", caminhou vagarosamente até seu lugar a mesa de chá. Sentou, se aconchegou, pois mais chá na xícara e tomou um gole longo. Saboreou, olhou para Alice disse:

- Acho que você ia dizer que estava com ciúmes.

Alice se esticou como quem leva um susto e aos gaguejos disse que não era nada daquilo. Também se sentou a mesa, tomou mais do seu chá, olhou para a saída, depois para o Chapeleiro e depois para a xícara de chá que ele segurava. Com os olhos na xícara (para dar impressão que olhava para ele e não olhava) disse:

- Até estava com ciúmes, mas isso não era que eu queria dizer.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dos sabores e dissabores

- Estou cansada disso tudo Chapeleiro. - Disse Alice, após um gole na xícara de chá - Toda essa falta de razão, já esta me deixando desconfortável e chateada.

- Então talvez você devesse parar de tomar o chá. - Respondeu o Chapeleiro de forma automática.

Alice, claro, não entendeu a lógica da resposta, mas antes que pudesse questionar o Chapeleiro percebeu a pergunta que viria através da sua expressão. Ele tirou o chapéu, coçou a cabeça e disse como quem sabe que falou uma besteira:

- Chateada não é alguém que esta se sentindo mal por ter tomado muito chá?

A menina não sabia se sorria ou se dava algum tipo de lição de moral no Chapeleiro. Lembrou-se quão inútil foram as outras lições de moral. Decidiu dar-se as gargalhadas e quando se recuperou tentou explicar seus sentimentos:

- O que eu quis dizer, é que não mais me agrada estar aqui. Não esta me fazendo bem. Não é mais tão divertido.

O Chapeleiro arqueou as sobrancelhas como quem entende tudo que foi falado. Coçou novamente a cabeça, o queixo e por ultimo a ponta do nariz. Levantando e girando o indicador ele disse:

- Então a solução é tão simples quanto a outra. Basta que você vá embora. A porta da saída ainda esta no mesmo lugar e aberta para você passar por ela.

- Esta. - Confirmou Alice em um muxoxo.

O Chapeleiro novamente leu cada expressão no rosto da menina. Identificando, mas não entendendo, seu dilema perguntou:

- Então porque você não vai?

Alice apenas tomou mais gole de seu chá. E ficou maravilhada como ele sempre se mantinha quente e saboroso.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ortografia e Gramatica

Foi olhando para dentro de minha xícara vazia que percebi que desejava mais café. Assim mesmo, desejava. Eu não queria mais café, nem gostaria de mais café. Eu desejava.

Por aqueles dias eu poderia falar muito bem de desejo. Os dias com ela tinham me ensinado bem o que era o que. Com tanta experiência adquirida eu podia ser catedrático: "Isso é desejo".

Naquele momento a vontade de por os lábios nas bordas da xícara e sorver o liquido quente e amargo era a mesma de tocar os lábios dela e sentir sua língua e saliva. Então só poderia ser desejo

A expectativa era sentir o calor provocado pela bebida de gosto e odor forte da mesma forma que sentia seu calor num abraço apertado. Então só poderia ser desejo.

Eu deduzia meu desejo baseado em cada sensação que me provocava seu toque, seu olhar, acertando milimetricamente. Então poderia ser falar com autoridade. Isso que sinto agora é desejo.

Não tive o café. Também não tive como saciar meu desejo de você naquele momento. Eu sabia que aquela falta de você também era desejo. Desejo de ter você olhando com olhos brilhantes. Desejo de sentir seu coração bater num abraço. Desejo de sua mão correndo no meu corpo. Desejo de um beijo que tirasse o compasso das nossas respirações.

Meu desejo ficou pra ser saciado a noite, ou quando os protocolos da vida nos permitisse, ou mais alem. Então surgiu a vontade de ser mais próximo. Quase já. E essa era uma vontade tão forte que de imediato deduzi categórico: "Isso é desejo".