quarta-feira, 28 de julho de 2010

Das razões para falar e calar

Alice aguardou impaciente a saída da Lebre. Aquela miserável, que nem mesmo era um coelho nem um gato, estava roubando a atenção do Chapeleiro falando suas asneiras enquanto ela tinha algo importante a dizer.

A menina cruzou os braços e fez cara de birra na esperança que um dos dois se desse conta da situação. Mas foi inútil. A Lebre continuava tagarelando baboseiras sobre desaniversários e mel e pimenta.

Alice comemorou quando ouviu a Lebre dizer ao do tipo: "... então volto amanhã...". Levantou de excitação pela partida do falso coelho e foi lhe desejar boa partida mais no sentido que ela fosse mais breve do que realmente fosse boa.

Ao chegar próximo a Lebre se punha em posição de partida. Voltou para saudá-la apertando sua mão e balançando as orelhas longas e finas. Alice por sua vez disse um "até mais" como quem diz "vai logo". A Lebre virou de volta a sua direção e saiu aos saltos em zig-zag.

Alice olhou para o Chapeleiro e disse meio zangada:

- Que bom que ela foi embora.

O Chapeleiro novamente não entendeu a menina. A Lebre era sua melhor companhia para o chá, principalmente para chás de desaniversários. Por mais que Alice tivesse passado a ser uma companhia mais interessante, ele não gostaria de desperdiçar seus velhos prazeres com quem tanto o divertira no passado.

- Gosto das visitas da Lebre de Março, Alice. Ela sempre traz noticias muito interessantes de todo o País. - Respondeu então.

A menina ficou ainda mais zangada, mas, obvio, não quis se deixar perceber:

- Também gosto dela. Apenas que agora precisava lhe contar algo e apenas a você.

- O que seria então Alice? - Disse o Chapeleiro em tom de duvida.

- Seria que... que... - Alice olhava para todos os lados, como se a sua pergunta estivesse a chegar de algum lugar. - Que a sua amiguinha Lebre demorou tanto a sair que eu esqueci o que ia dizer.

O Chapeleiro, com cara de "eureca", caminhou vagarosamente até seu lugar a mesa de chá. Sentou, se aconchegou, pois mais chá na xícara e tomou um gole longo. Saboreou, olhou para Alice disse:

- Acho que você ia dizer que estava com ciúmes.

Alice se esticou como quem leva um susto e aos gaguejos disse que não era nada daquilo. Também se sentou a mesa, tomou mais do seu chá, olhou para a saída, depois para o Chapeleiro e depois para a xícara de chá que ele segurava. Com os olhos na xícara (para dar impressão que olhava para ele e não olhava) disse:

- Até estava com ciúmes, mas isso não era que eu queria dizer.

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