Foi olhando para dentro de minha xícara vazia que percebi que desejava mais café. Assim mesmo, desejava. Eu não queria mais café, nem gostaria de mais café. Eu desejava.
Por aqueles dias eu poderia falar muito bem de desejo. Os dias com ela tinham me ensinado bem o que era o que. Com tanta experiência adquirida eu podia ser catedrático: "Isso é desejo".
Naquele momento a vontade de por os lábios nas bordas da xícara e sorver o liquido quente e amargo era a mesma de tocar os lábios dela e sentir sua língua e saliva. Então só poderia ser desejo
A expectativa era sentir o calor provocado pela bebida de gosto e odor forte da mesma forma que sentia seu calor num abraço apertado. Então só poderia ser desejo.
Eu deduzia meu desejo baseado em cada sensação que me provocava seu toque, seu olhar, acertando milimetricamente. Então poderia ser falar com autoridade. Isso que sinto agora é desejo.
Não tive o café. Também não tive como saciar meu desejo de você naquele momento. Eu sabia que aquela falta de você também era desejo. Desejo de ter você olhando com olhos brilhantes. Desejo de sentir seu coração bater num abraço. Desejo de sua mão correndo no meu corpo. Desejo de um beijo que tirasse o compasso das nossas respirações.
Meu desejo ficou pra ser saciado a noite, ou quando os protocolos da vida nos permitisse, ou mais alem. Então surgiu a vontade de ser mais próximo. Quase já. E essa era uma vontade tão forte que de imediato deduzi categórico: "Isso é desejo".
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