segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Do encontro de Sátiros e Ninfas

Ela veio com um sorriso largo e os olhos brilhantes.

Fazia muito tempo que não se viam e das ultimas vezes vinham apenas se vendo. Mantinham-se de longe. Trocavam um olhar só para saber que um viu o outro. Depois passavam a se observar de longe, sutilmente, para que não se percebessem.

Dessa vez, quando os olhares se encontraram ele mandou um sorriso para ela. Foi só uma levantadinha das pontas da boca. Sendo que, na situação em que eles se encontravam, aquilo valia como um imenso sorriso.

Ela, longe, respondeu com um sorriso bem mais largo, jogando a cabeça um pouco para direita. Era do seu feitio aquele sorriso, mesmo que fosse falso. Ele não saberia distinguir, claro.

Junto com o sorriso veio a coragem. Então ela chegou perto com aquele tipo de conversa trivial: “Como você esta?” “como esta a família?” “Os estudos?” “O trabalho”... Tudo muito mal respondido por ele que quase não fez perguntas. Falou apenas o necessário. Uma piadinha às vezes quando a camada de gelo entre eles estava espessa demais.

Com um tempo alguns indícios de uma intimidade que não existe mais começaram a surgir. Aproveitando esse ensejo ela pergunta: “Já deixou de me amar?”. Ele olhou como se duvidasse que ela perguntaria aquilo, ou como se tudo fosse muito obvio: “Não, mas aprendi a viver sem você.”

A conversa perdeu o desenrolar por instantes. Pareceram horas para eles. Então alguém puxou um novo assunto que volta a se desenrolar como no começo. Perguntas habituais, sociais. Coisas que não se quer saber na verdade, muito menos se quer dizer.

De repente algum amigo o chamou, ou a ela. Eles se despediram formalmente. Um abraço desajeitado, cheio de embaraço e ambos se dão as costas.

Ele começou uma oração silenciosa que pedia que ela voltasse para dizer que o quer de volta, ou apenas para lhe dar mais uns minutos dela. Ele não sabia o que ela estava pensando. Resolveu então, esquecer isso por mais tempo.

Percebeu que realmente aprendeu a fazer isso muito rápido. Quando chegou aos amigos jurava que nem lembrava mais.

A noite voltou a sua total normalidade. Ambos vão ao menos fingir se divertirem. Ela teve um pouco mais de problema nisso. Devido a experiência ele o fez muito bem, quase imperceptível.

Tudo volta a exalar um ar de comum e eles, como quem respira, passaram a noite se observando, sutilmente, para que não se percebessem.

Nenhum comentário: