O relógio marcava uma da madrugada, passava já alguns minutos disso. Na verdade era quase duas, mas foi só nesta hora que me veio a inspiração e a vontade de escrever. Ao menos comigo, é muito difícil que as duas andem juntas. Então achei que deveria aproveitar e me incentivei a fazer um conto.
- Um conto... – Pensei. – Fazer um conto...
Passado algum tempo preso a esse medíocre pensamento o mudei para:
- É, um conto. Pode ser, porque não? Mas... um conto sobre o que?
Essa minha nova indagação me roubou mais alguns minutos, o que me deu tempo de ir atender um breve chamado da natureza. Ao voltar, um pouco mais aliviado, olhei para mim mesmo sem precisar do espelho e me sugeri:
- Escreve um conto sobre a morte.
O meu eu que recebeu a sugestão, em resposta ao que sugeriu, abriu-se em pensamentos:
- Mas... sobre a morte? É certo que eu e você (nesta ocasião eu e eu, já que você também sou eu) apreciamos e já escrevemos um tanto sobre a morte e visto que é um assunto tão vasto quanto o amor. Porem, é mesmo necessário um conto e mais um texto meu, digo, nosso a respeito da morte?
Meu eu sugestor, impaciente tão quanto qualquer eu seria, se colocou a contra-responder em meio a palavras de baixo nível:
- Se não queres minha opinião não precisa a menosprezar. Apenas não a tome para si! Hora essa! Agora tenho que escutar criticas de mim mesmo sobre o que escrevo... Eu gosto de falar da morte, e daí?!
Meu eu que tentava escrever, menos funesto e mais paciente que o outro (ao menos no momento), replicou com certo tom de voz que eu não reconhecia em mim. Algo sereno-intelectual.
- Calma. Não é bem assim. Não estou a menosprezar sua idéia, a acho ótima. Como disse antes, já fiz algumas coisas com você sobre isso. Só não acho propicio o fazer agora.
A serenidade da minha fala me acalmou de um modo que meu eu bravio voltou a um estado próximo do equilíbrio. Todavia, não querendo admitir estar errado, falou com desdém:
- Faça como quiser. Não me intrometo mais. Não quero mais fazer contos.
Como uma peste altamente contagiosa, a desvontade minha contagiou meu outro eu. Esse também desistiu de produzir seu conto.
Quando dei por mim vi que mesmo que ainda tivesse vontade a inspiração havia evanescido a muito. Veio apenas a mente:
- Nada mais de conto. Por fim, acabo escrevendo sobre a morte.
Meu conto morreu!
5 comentários:
Texto que escrevi em 2002 dando os primeiros passos pa coisa... Axei em um monte de papel e resolvi postar aqui. Qm qiser pode tambem me ve lendo esse texto no youtube é so por na busca meu nome ou o nome do texto "um conto de dois eus e nenhum conto".
Qd acessei aqui hj, estava querendo que vc tivesse atualizado e qual não foi minha surpresa... Muito bom!!! Não sei se vc achou graça do que escreveu ou até mesmo se escreveu pra ser engraçado, mas eu ri bastante! hahahahahahahaha Conflitos "eu X eu"...
a ideia era um pouco de humor msmo.
k k k ~
Depois de urinar(mijar) e ter uma conversa consigo mesmo, não poderia sair nada melhor !
Ainda bem que só converso com um de tu.
Ficou hilário maninho.
Gostei \o\
Meus sentimentos ao seu Conto.
Luz" Paz"
Porra!! Desculpa o palavrão ... mas parece meu outro eu também quer se manifestar !!!
Na verdade essa interjeição foi a melhor maneira do meu outro eu agradecer o bom momento de riso, ou melhor ainda esboçamos os traçops de belas gargalhadas.
Confesso que eu também achei perfeita a idéia, parabéns.
Espero poder entrar e rir um pouco mais.
Que seus contos morram sempre !!! hehe
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