sábado, 10 de outubro de 2009

Depois de Março

Acordei três vezes hoje. O telefonema de um grande amigo e despertador não foram suficientes para me desgrudar da cama. Somente após o terceiro despertar resolvi me levantar.

Antes de qualquer coisa, andei só de cueca pela casa para ter certeza de que tudo estava no seu devido lugar. E estava. Eu claro, esperava que não estivesse. Gostaria de ter me acordado alguns anos antes. Não aconteceu, acordei hoje mesmo.

Depois da certeza fui ao banheiro. Olhei-me no espelho e procurei logo meus olhos. Encontrei tão fácil. Acho que já me acostumei com o local onde eles estão. Olhei bem fundo. Dentro dele ainda estavam as alguns traços vermelhos me lembrando das minhas ações na noite anterior.

Concentrei-me e olhei ainda mais fundo. Finalmente me vi. A partir desse contato olho a olho que tive comigo mesmo tive certeza de algo que venho me questionando há certo tempo. Perdi meus dons. Todos eles. Das luzes as palavras. Tenho hoje o espectro disforme de tudo que já fiz um dia. Assim como a fama disseminada pela amizade de um potencial que um dia poderia vir a ter.

Fui com o passar dos dias me tornando de tudo que eu era para uma serie de nãos. Não sorri. Não amar. Não amado ser. Não fui. Não tive. Não fiz. Não conquistei. Não lutei. Não, não e nãos...

Duvido até mesmo que reste lá dentro algum vestígio do monstrinho verde da esperança. Creio que reste apenas vestígios de vida, enquanto não surge os primeiros traços de morte.

2 comentários:

Nathália :) disse...

Nosso, que lindo texto! Mas isso é o que geralmente acontece conrsoco. Muitas coisas vão acontecendo na nossa vida, e elas vão nos transformando aos poucos... E quando percebemos, já somos uma outra pessoa.

Paulinha disse...

Nossa, lindo, mas muito triste, acredito sempre que ainda temos uma esperança, uma fé, por menor que seja, pois é ela que nos matém vivos!

Beeijos!