sábado, 29 de agosto de 2009

Lição

Aos prantos, sentado ao chão perto do velho acomodado em sua cadeira de balanço, ele descrevia mais um amor que “não deu certo”. Toda aquela ladainha que todo mundo conhece de cor. Fiz mundos e fundos, me superei, me privei. Tudo aquilo que agente sabe que todo mundo faz e não faz.

Quando já estava cansado de falar, ou por necessidade de ouvir, ele pediu algum tipo de conselho ao velho, que responde:

- Ame meu filho. Ame o maximo que você puder e quando achar que não pode mais, ame mais ainda.

Claro que aquilo parecia a coisa mais inútil de se ouvir naquele momento. Tudo que se ouve nessas horas parece inútil na verdade. E talvez por descaso, falta de compreensão ou mesmo burrice ele não seguiu o conselho que recebeu.

Horas, dias, meses e anos depois ele era o velho na cadeira de balanço e alguém jovem chorava as mesmas lamurias que ele tinha chorado naquele momento. Mesmo sabendo cada trecho da historia que estava por vir, ele ouviu pacientemente. E quando percebeu que havia chegado a hora em que o jovem tinha cansado de falar ou necessidade de ouvir, ele disse:

- Ame meu filho. Ame o maximo que você puder e quando achar que não pode mais, ame mais ainda.

De forma mais inteligente que a dele no passado, o jovem perguntou porque. Ele reconhecendo que deveria ter feito o mesmo quando era sua vez deixou uma lagrima rolar no rosto. Abraçou o jovem, olhou nos seus olhos e disse:

- Porque será muito pior se você não o fizer.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Acho que ja te disse

Hoje, em alguns momentos do meu dia que quase não parecem meu dia, tive tempo de pensar em te ligar. Apenas ligar. Para falar qualquer coisa. Perguntar como foi seu dia. Dizer alguma eventualidade. Ouvir tua voz.
Peguei o telefone algumas vezes, mas desistir em todas. Pensei se podia fazer, se devia fazer. Se você receberia bem, a final não sei seus gostos. Se você poderia falar, afinal não sei seus horários. Pensei no que poderia falar e no que não deveria nem pensar.
Passei tanto tempo nisso que acabei devorado por mais uma onda de tumulto do meu dia e pensar em você foi mais de você que pude ter quando queria muito mais.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Dos nãos, dos nuncas e dos jamais

Era muito bom para ser para mim. Não, não podia ser para mim. Não desse jeito, não com tanta perfeição.

Aquele brilho nos olhos, não podia ser para mim. Aqueles beijos não eram meus, não podiam ser meus. Eu não teria direito a tanto, ou a tal.

Cai nas graças do momento, mesmo sabendo que não era meu. Que não podia ser meu. As asas cansadas se aninharam no aconchego daqueles braços. Meu corpo frio se aqueceu no calor daqueles abraços.

Mas nada daquilo era meu e por devido, me foi tirado, assim como foi dado. Era muito para ser para mim, pois era muito pouco. Podia ser de qualquer ser humano, mas não meu. Nunca poderia ser meu. Nunca poderá ser meu...

De qualquer ser humano pode ser, mas não meu...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Feminino

Nunca exigi seu tempo, dei minhas horas.

Jamais pedi seus carinhos, dei meus afagos.

Nunca te obriguei a fidelidade, dei minha lealdade.

Jamais te citei como minha, defini o meu corpo como seu.

Não te prendi, não te ceguei, não te sufoquei, não te segui.

Mostrei meu caminho e desejei que ele, pouco a pouco, acompanhasse o seu.

Linhas paralelas se encontram no infinito. Nunca se batem. Permanecem lado a lado.

Não exijo tua compreensão, dou minha amizade.

Não peço tua calma, dou meu sorriso.

Não te obrigo a razão, dou minhas utopias.

Te peço apenas que eu seja uma breve lembrança, sempre antes de seus dedos terminarem de gritar seu nome.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sobre o tempo la fora

Hoje o barulho da chuva tem outro significado. Como toda mudança, doeu para que ao ouvir a chuva cair eu pensasse em outra coisa, em outros momentos.

Antes os pingos ao chão anunciavam um sono doce, ambos a se esquentar sob os lençóis abraçados na cama de solteiro. Dormir com seus cabelos no meu nariz. Às vezes trazendo seu cheiro em outras fazendo cócegas. Aperta-la contra meu corpo, correr a mão da sua cintura ate as coxas. Acordar varias vezes a noite com o ranger de seus dentes ainda acordados. Finalmente, acordar para vê-la serena e linda, nos seus últimos minutos de sono.

Quantas chuvas clamaram por isso e não tiveram. Deitei só, na esperança de que em algum momento ela aparecesse como por encanto, dizendo apenas “cheguei”. Não seria necessário dizer mais nada. Perguntas, pensamentos e duvidas seria para a manhã seguinte (caso ela viesse a existir).

Procurei o seu cheiro no travesseiro, nos lençóis. Ate achava vez ou outra. Por pouco segundos, mas jurava que era ele. Meus braços vagaram pela cama que agora parecia tão grande. Nem mesmo os lenços conseguiram afastar o frio.

Assim foram as noites de chuva de um passado não muito distante. (Faz um ou dois séculos?)

Hoje é diferente. Novamente a chuva lembra aconchego, mas de modo diferente. De um jeito especial, mas que depende mais de mim do que de outra pessoa. Escolho quanto espaço terei na cama. Hoje sinto o cheiro que quero. Nada mais me acorda. Prefiro ser assistido ao dormir a assistir o sono alheio.

O barulho da chuva hoje me lembra quão efêmeros são os bons momentos. Que se não forem intensamente aproveitados eles podem ser protagonistas de momentos desesperados de tristeza.

O barulho da chuva hoje, me da ordem de vida. Eu a acato e vivo.