quinta-feira, 25 de março de 2010

Das razões da Felicidade

Alice estava muito bem acomodada na casa da Rainha Branca. Aproveitou que a mesma não estava e aproveitou para apreciar a vista do que ela considerava o melhor ponto para se olhar todo o tabuleiro. O Chapeleiro aproximou-se e a deixou numa posição que, se ele fosse um cavalo, teria a deixado em cheque. Não se sabe ao certo qual a intenção do Chapeleiro com aquele movimento, visto que, seus movimentos são mais parecidos com os do peão do bispo.

A curiosidade de Alice, que não precisava de algo estranho para se aguçar, a despertou para o fato e para a presença do Chapeleiro. Ela tirou a atenção de sua paisagem e olhou o Chapeleiro pelo canto do olho.

Ele estava com aquele olhar que sempre desconcertava Alice. Com o rosto meio de lado e uma das sobrancelhas erguidas, o chapéu ficava inclinado para frente e sua aba cobria boa parte do olho que ele não erguia.

Alice não suportava muito daquele olhar. Ficava se sentindo estranha, errada, diferente, quando na verdade, ela é que era o normal, o certo. Soltou de imediato as palavras que o faria instantaneamente sair daquela posição: “Pergunte logo o que quer saber.” Alice tentava fazer com que não parecesse uma ordem, mas nunca conseguia. Sempre se irritava demais com aquela situação para manter algum tipo de equilíbrio.

O Chapeleiro mudou de posição no tabuleiro, de modo que agora poderia sim dar um cheque em Alice segundo seu próprio movimento. Olhou-a de frente e cuspiu um pouco, como se tivesse preparando a língua para falar bastante e soltou:

- Me diz Alice, por que para o povo do seu país que se dizem tão “racionais e certos” é tão difícil estar feliz e bem com outra pessoa?

- Como assim bem? Estou bem e do seu lado agora.

- Não Alice, não assim. Se duas pessoas se gostam, sentem vontade de estar juntas porque simplesmente não ficam juntas? Porque ficam criando dificuldades por motivos que nem mesmo estão próximos a eles?

- Porque isso não é tão simples Chapeleiro. Você não pode abdicar de tudo por outra pessoa, alem de haver outras pessoas com o qual você é importante e precisa estar bem com elas também.

O Chapeleiro fez ar de quem pensava no assunto, olhando para cima e com o dedo indicador em riste:

- Quer dizer que você não pode ser feliz porque é importante para outras pessoas que sua felicidade seja do jeito que elas queiram?

- Sim... Quer dizer não!

Alice percebeu que se meteu em uma grande confusão com seus pensamentos e começou ela a discutir consigo mesmo o fato das pessoas não conseguirem serem feliz e pronto. Realmente havia uma necessidade de ser encaixar na vida de outras que, muitas vezes, nem estavam feliz e de outros que por certo nem participariam daquilo tudo. Havia uma necessidade de se ter uma felicidade igual a de outros e até mesmo o Chapeleiro havia percebido que isso se estendia a outras situações.

- Alice, tenho plena certeza de ser feliz com meus chapéus e meu chá. Já a Lebre é feliz com o chá, mas detesta chapéus, o que não impede que sejamos felizes juntos e cientes que nossas felicidades são bem diferentes.

Alice não teve escolha, senão a de se reder novamente ao Chapeleiro. Seu país racional passava a cada dia ser bem mais louco do que o país das Maravilhas e Alice não compreendia como isso era possível.

O Chapeleiro percebeu o desconforto de Alice e tentou remediar. Pegou na bolsa um pouco de pão fresco e um frasco de geléia que guardava para momentos especiais e a ofereceu:

- Deixe isso pra lá Alice, as confusões do seu país devem ficar por lá mesmo. Acredito que já temos varias outras por aqui. Pegue um pedaço de pão e experimente essa geléia. É ótima, brotam das arvores de geléia do jardim da Rainha uma vez a cada 5 anos...

- Ei espera! – Alice o interrompeu – As geléias não brotam em arvores!

O Chapeleiro a olhou como se ela houvesse falado a maior das insanidades e chão aos seus pés se desfez...



Prefiro pensar que estou no mundo louco do Chapeleiro!

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