Alice estava dormindo. Sabia que estava. Bom não me pergunte como caso nunca teve a certeza de estar dormindo, não é algo tão fora do comum quanto se possa pensar. E naquele estante, durante uma breve pausa no chá por necessidade de se buscar mais geléia para o pão, Alice adormeceu. Adormeceu e sonhou, mas sabia que estava dormindo e tudo não passava de um sonho.
No sonho, Dinah, sua gata, a acordava usando a cabeça contra os joelhos de Alice. Após o bocejo de acordar, Dinah olhou fundo nos seus olhos e deu-se a falar. Alice sabia que Dinah não falava, bem por isso teve certeza de que tudo se tratava de um sonho e que para sonhar, deveria estar dormindo.
De qualquer modo, Dinah lhe falou e disse:
- Você não ira voltar Alice?
Alice, educadamente, respondeu como responderia a qualquer um que falasse com ela, mesmo que esse alguém fosse um gato:
- Não sei Dinah, a cada o momento a vida aqui fica mais interessante. Não sei se, caso eu volte, seria mais feliz do que posso ser aqui.
Dinah entristeceu. Via-se em seus olhos. Você sabe como são olhos de gato triste. Após permitir que duas lagrimas escorressem pelo focinho, disse:
- E como ficaram seus pais? Sua irmã? – Deu uma longa pausa, fez uns sons que Alice definiu como algo entre o soluço e o ronronar e continuou: - Quem encherá meu pires com leite?
Alice, que até então estava comovida, se enfureceu:
- Então se trata disso não é Dinah? Do seu conforto pessoal!
A menina iria começar uns dos seus discursos de moral e bons costumes, mas foi subitamente acordada pelos gritos da Lebre de Março que comemorava a chegada da geléia. Como qualquer um que acorda no susto, Alice deu salto de sua poltrona. O Chapeleiro se impressionou e achou que tal ação se se deve a preferência da menina por geléia, o que o fez não compreender seu olhar distante ao passar a guloseima em uma fatia de pão.
Alice pensava sobre a pergunta de Dinah em seu sonho. Não mais na parte sobre o pires e o leite, mas nos seus pais e sua irmã. Sua felicidade no País das Maravilhas pode trazer a infelicidade das pessoas que ama. Por outro lado, ao voltar Alice perderia toda a felicidade que aquele lugar maluco a proporcionava.
Resolveu que sofreria mais se pensasse mais no assunto. Mordeu, generosamente, a fatia de pão com geléia, mastigou por quatro vezes e se maravilhou com seu sabor.
- Que geléia deliciosa Chapeleiro! Qual o sabor dela?
- Ora! – Exclamou o Chapeleiro – Minha favorita: geléia de falsa-tartaruga.
Alice fez uma cara de espanto e tudo voltou ao normal no País das Maravilhas.