terça-feira, 28 de setembro de 2010

Equinócio

O verão vem chegando por esses dias. Com ele a promessa de um constante sol brilhando nos céus. As nuvens nublam os corações começam a se dissipar.

Olho o céu limpo, sinto o coração abrir e me pergunto como farei para meu coração chover por esses dias. Se o céu não chorar, terei eu mesmo que chorar? O que impedirá minhas lagrimas de rolarem? Sem ombros ou dedos que as amparem.

A promessa de bom tempo lá fora me traz a angustia de não ter mais os céus chorando as minhas tempestades. As chuvas de verão não se mostram dispostas a aliviar meu coração encharcado.

Olho para céus e peço para que ele faça descer suas águas para purificar minhas magoas. Olho para o céu e peço que o sol brilhe em outra direção, que deixe escorrer minhas lagrimas para me trazer o brilho de um sorriso.

sábado, 25 de setembro de 2010

A Criação

No princípio, as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: "Faça-se a luz!" E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou à luz DIA, e às trevas NOITE. Sobreveio a tarde e depois a manhã.

No princípio, tudo era de tristeza estática. Deus disse: "Faça-se a alegria!" E a alegria foi feita. Deus viu que a alegria era boa, e separou a alegria da tristeza. Deus chamou à alegria SORRISO, e à tristeza CHORO. Sobreveio a lagrima e depois o riso.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

De como se vêem os Satiros e Ninfas

Era um dia normal. Ele sempre acreditava que todos os dias eram normais, independente do que acontecesse ou de como amanhecesse. Não faria a mínima diferença se o sol raiasse vermelho e o céu verde, para ele seria mais um dia, mais um dia normal.

E aquele era. Ou pareceu ser quando amanheceu, no trajeto ao trabalho, no cafezinho, no almoço. Tudo estava estaticamente no seu lugar fazendo assim, que aquele dia deixasse de ser mais um dia para ser menos um dia, conforme o girar dos ponteiros.

Até que por fim venho a noite e no seu movimento inerte de voltar ao lar ele a viu. Então tudo ficou diferente. Tudo tinha mais cor, mais brilho e um movimento quase sinfônico. Ele olhou para os olhos dela e gritou com o brilho dos seus:

- Hoje é um dia especial!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sobre geléia, sonhos e felicidade

Alice estava dormindo. Sabia que estava. Bom não me pergunte como caso nunca teve a certeza de estar dormindo, não é algo tão fora do comum quanto se possa pensar. E naquele estante, durante uma breve pausa no chá por necessidade de se buscar mais geléia para o pão, Alice adormeceu. Adormeceu e sonhou, mas sabia que estava dormindo e tudo não passava de um sonho.
No sonho, Dinah, sua gata, a acordava usando a cabeça contra os joelhos de Alice. Após o bocejo de acordar, Dinah olhou fundo nos seus olhos e deu-se a falar. Alice sabia que Dinah não falava, bem por isso teve certeza de que tudo se tratava de um sonho e que para sonhar, deveria estar dormindo.
De qualquer modo, Dinah lhe falou e disse:
- Você não ira voltar Alice?
Alice, educadamente, respondeu como responderia a qualquer um que falasse com ela, mesmo que esse alguém fosse um gato:
- Não sei Dinah, a cada o momento a vida aqui fica mais interessante. Não sei se, caso eu volte, seria mais feliz do que posso ser aqui.
Dinah entristeceu. Via-se em seus olhos. Você sabe como são olhos de gato triste. Após permitir que duas lagrimas escorressem pelo focinho, disse:
- E como ficaram seus pais? Sua irmã? – Deu uma longa pausa, fez uns sons que Alice definiu como algo entre o soluço e o ronronar e continuou: - Quem encherá meu pires com leite?
Alice, que até então estava comovida, se enfureceu:
- Então se trata disso não é Dinah? Do seu conforto pessoal!
A menina iria começar uns dos seus discursos de moral e bons costumes, mas foi subitamente acordada pelos gritos da Lebre de Março que comemorava a chegada da geléia. Como qualquer um que acorda no susto, Alice deu salto de sua poltrona. O Chapeleiro se impressionou e achou que tal ação se se deve a preferência da menina por geléia, o que o fez não compreender seu olhar distante ao passar a guloseima em uma fatia de pão.
Alice pensava sobre a pergunta de Dinah em seu sonho. Não mais na parte sobre o pires e o leite, mas nos seus pais e sua irmã. Sua felicidade no País das Maravilhas pode trazer a infelicidade das pessoas que ama. Por outro lado, ao voltar Alice perderia toda a felicidade que aquele lugar maluco a proporcionava.
Resolveu que sofreria mais se pensasse mais no assunto. Mordeu, generosamente, a fatia de pão com geléia, mastigou por quatro vezes e se maravilhou com seu sabor.
- Que geléia deliciosa Chapeleiro! Qual o sabor dela?
- Ora! – Exclamou o Chapeleiro – Minha favorita: geléia de falsa-tartaruga.
Alice fez uma cara de espanto e tudo voltou ao normal no País das Maravilhas.